Quase uma estranha
O pensamento de ser tocada por ela me fazia tremer; meu corpo desejava o corpo dela com tanto ardor que eu, sempre tão "certinha", estava perdendo o controle da situação.
E eu sabia que aquela atração era recíproca. Naquela noite, com o avançar das horas, a tensão sexual e a consciência da presença uma da outra aumentaram, mas na meia-luz daquela sala iluminada apenas por uma lareira, nós duas relaxamos e o confortável silêncio foi acentuado pelo barulho da lenha queimando no fogo. Talvez tenhamos relaxado até demais; nossa conversa foi ficando cada vez mais agradável, quase íntima.
Nesse momento conseguimos entender a atração que nos dominava e a nossa conversa voltou a ficar truncada. Evitamos nos olhar, mas quando ela serviu o último copo de vinho, nossas mãos se tocaram apenas brevemente. Afastamos-nos bruscamente e naquele instante pude sentir a energia correr com força.
Pouco depois ela me mostrou o quarto. Acendeu um lampião e colocou-o no criado-mudo. Por um momento ela hesitou e delicadamente me disse:
- Este quarto é bastante confortável. - Sem sorrir seus olhos procuraram meu rosto.
- Está perfeito - comentei com a mesma delicadeza e consegui dizer apenas: - Obrigada por vc ter me recebido em sua casa.
- Boa noite - ela disse e saiu. E eu fiquei lá, parada, olhando para a porta fechada e brigando com meu impulso de ir atrás dela.
Como uma simples viagem de SP a Monte Verde podia acabar numa casa com uma estranha que eu parecia conhecer havia anos e com quem eu queria ir para cama, como jamais tinha me acontecido antes?
Tudo parecia um sonho e eu comecei a me sentir como Alice no País das Maravilhas.
Eu estava voltando de uma viagem onde fui visitar uma amiga de escola. A chuva começou assim que peguei a estrada e, para completar, o motor do carro começou a falhar. Cinco minutos depois soube que tinha cometido um grande erro. O carro parou numa estrada distante e não se via ninguém, nem mesmo a luz de alguma casa dirpersa naquela escuridão; eu estava completamente perdida. Foi então que um outro carro se aproximou.
A motorista vestia um casaco pesado e estava com um cobertor grosso. Ela saiu do carro e deixou o motor ligado; enquanto cobria a cabeça com o capuz e veio em minha direção.
- Qual o problema? - ela me perguntou
- Não dá a partida - respondi desanimada.
Ela estava escondida pelo capuz, mas pude sentir seu olhar me perseguindo.
Ela pegou uma corda e veio para o meu carro dizendo que tínhamos que rebocar.
A porta da frente da casa dava para uma sala de teto baixo, confortavelmente aquecida pela lareira.
- Aline - Me apresentei.
- Carina, respondeu com a voz mais sexy que já ouvi.
- Sente-se e se aqueça, as luzes se apagaram, ela pegou velas e ficamos a conversar a luz de velas.
Naquele momento o gelo que ainda existia entre nós foi quebrado, relaxamos e conversamos como amigas.
Eu, de repente, me vi tentando resistir ao desejo de alcançar a mão dela. Quando ela levantou a cabeça, nossos olhos se encontraram e ficamos assim por uns segundos. Em seguida, assustadas, desviamos rapidamente o olhar. Foi a primeira vez que consegui admitir para mim mesma que me sentia atraída por aquela estranha.
E agora, aqui estava eu, deitada sozinha em minha cama, pensando nela e sabendo que ela pensava em mim. Até que não consegui mais resistir. Pulei da cama e abri a porta. Ali estava ela. Encostada na parede ao meu quarto.
- Eu estava criando coragem para bater na sua porta - ela disse.
- E eu, para ir te procurar.
Ela me pegou nos braços e, enquanto me levava para seu quarto, eu a abracei, afundando o rosto em seu pescoço macio.
Eu me ajoelhei na cama, nua, com a cabeça jogada para trás e com os olhos fechados, consciente apenas do toque dela em meus seios, a sensação dos dedos esfregando insistentemente meus mamilos e provocando um instantâneo e trêmulo despertar. Seus lábios se enterraram na minha garganta, para depois descerem vagarosos até o bico dos seios. Ela os sugava com força e, com a língua, provocava-os num delicioso tormento que me fazia estremecer. Enquanto isso, suas mãos escorregaram para explorar o espaço entre minhas coxas separadas.
Gemi enquanto ela escorregava para dentro do meu corpo e ouvia sua respiração entrecortada ao me penetrar com os dedos. Ela segurou forte minhas pernas em volta dela, nossos sexos se encontraram, movendo os quadris num vaivém delicioso. Começamos a nos mexer no mesmo ritmo, cada vez com mais urgência, a respiração dela ofegante se misturando com a minha. Eu nunca tinha conhecido tanto prazer, então comecei a beijá-la, seu corpo tinha um perfume muito sensual, o que me deixava ainda mais inebriada, finalmente cheguei até seus seios e comecei a sugá-los, beijá-los, dando ocasionalmente leves mordidas nos bicos. Alternava entre um e outro. Minha mão mais apressada foi logo forçando a entrada em sua calça, Carina gemeu mais alto quando finalmente eu consegui alcançar seu sexo, senti que seu corpo estremeceu sob o meu.
Deixei seu sexo totalmente a minha mercê, fiz muitas carícias em seu sexo antes de penetrá-lo; enquanto minha mão brincava, eu lhe falava ao ouvido, deixando-a ainda mais excitada.
Quando percebi que ela já não agüentava mais, meus dedos deslizaram para dentro, mordia sua orelha e beijava-lhe o pescoço, aumentei a velocidade dos meus dedos e ela não demorou muito tempo, seu gozo saia farto na minha mão. Parecia não ter fim, até que alcançamos o êxtase total.
Depois do orgasmo, continuamos deitadas, saboreando a pulsação de nossos corpos saciados. Não sei quanto tempo ficamos lá, deitadas, mas eu estava satisfeita deitada nos braços dela.
- Eu gostaria de te beijar inteira - ela disse seriamente.
- Claro - eu assenti, sorrindo.
Seus lábios eram gentis. Começaram pelo meu rosto, passaram quase com descuido pela minha sobrancelha, minhas pálpebras, nariz, boca. Desviaram-se até minha orelha, provocando cócegas suaves e me fazendo contorcer e continuaram depois por todo corpo.
Não houve parte que não fosse tocada por Carina. Ela continuou por meus braços e dedos, seios e barriga, excitou agradavalmente meu umbigo com a língua, passou por minha virilha, dentro e fora das minhas coxas, a barriga da perna, os pés. Seus lábios eram seguidos pela mão, que ia percorrendo o mesmo caminho, me acariciando e me fazendo estremecer de prazer.
- Nós devíamos ter feito isso antes de transar - disse num suspiro.
- Pois eu tenho novidades para vc - ela murmurou ao mesmo tempo que me virava de costas. E fez a mesma coisa percorrendo minhas costas, nádegas e pernas.
Em nenhum momento seus dedos e lábios se dirigiram para onde eu mais desejava. Só depois de ter me beijado inteira foi que ela me virou de novo de frente e separou minhas pernas. Ouvi sua respiração brusca ao descobrir como eu estava molhada. Com qualquer outra pessoa eu me sentiria pouco à vontade, mas não com ela. Suspirei de prazer e me ergui em sua direção, assim que ela deslizou a língua e os dedos dentro de mim, estávamos tão excitadas que quando ela me penetrou pela segunda vez foi melhor que a primeira - se é que era possível.
Depois, dormimos exaustas, agarradas uma na outra.
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